Alegria e paz!
“Assim eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência” (Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis).
Lei da equivalência das janelas… abrir janelas… arejar continuamente a consciência. Vamos refletir um pouco a partir deste trecho de Machado de Assis? Sem a pretensão de praticar interpretação especializada sobre o autor e sua obra, tarefa para qual sou inapto e inábil, mas com a liberdade de quem arrisca conjecturas a partir de intuições que nascem da leitura. Que tal, vamos?
A proposta é refletir a partir de três verbos que aparecem no trecho citado: descobrir, compensar e arejar. Penso que estes verbos permitem uma sequência interessante de raciocínio e de postura diante da vida. Ajudam numa boa autocrítica, enfim.
O verbo descobrir implica, literalmente, tirar aquilo que cobre alguma coisa, portanto, expor ou tornar visível algo que estava encoberto. Não se trata de inventar ou criar, afinal a ‘coisa’ já existia, mas estava coberta por algo que impedia que fosse percebida, vista, sentida etc.
Descobrir coisas é ato humano dotado de grande poder de subversão. Muitas vezes a comodidade e a mediocridade aconselham manter as coisas encobertas e até escondidas para não gerar a necessidade (ou a possibilidade, talvez!) de enfrentamento dos desafios que a novidade traz consigo. A conjugação do verbo descobrir exige abertura de espírito e coragem; capacidade para conviver com a transitoriedade; leveza. Você convive bem com ‘descobertas’? Cultiva a abertura de espírito que leva a novas possibilidades? Convive pacificamente com o fato de que pode ser surpreendido/a com a realidade à sua volta?
Compensar é admitir que um valor (uma situação, uma forma de pensar ou sentir) pode ser substituído por outro; é compreender que há outros valores além daqueles que cultivamos até então; é aceitar que há perdas e que o bom senso recomenda a não estagnação.
A habilidade da compensação gera resolutividade, pois ajuda a pessoa a fazer as pazes com a perda; a não ficar preso a visões cristalizadas e muitas vezes retrógradas; a buscar e aceitar as novas opções. Compensar não é fazer uma pura substituição. Uma janela fechada não é substituída por outra aberta. A nova janela aberta traz outra luminosidade, traz ar de outra direção… é outra janela, outra! Não a janela anterior substituída.
Há pessoas que não aceitam o fechamento de janelas e gastam tempo demais querendo de outras janelas os mesmos resultados de janelas lacradas. E você, que janela nova abriu-se para você nos últimos tempos? Você compensa ou vive buscando nas novas janelas o que tinha em janelas antigas e já fechadas?
Arejar é permitir a circulação do ar. Tornar o ambiente blindado com a doce presença do ar novo e renovador; tornar a vida avessa ao mofo e ao cheiro de fechado. Permitir que o frescor de cada dia e a aragem das noites sejam experimentados como sinais de renovação da vida.
Quando a consciência, a moral, enfim, a vida está arejada, nossa capacidade para ser feliz está amplificada. Uma mente arejada consegue focar em janelas que podem ser abertas e não em janelas que a vida lacrou; uma mente arejada não fica com birra por janelas que se fecharam, mas curte a chance de compensar e abrir novas janelas. A quais janelas fechadas você está apegado/a? Que janela nova você pode abrir hoje? Descubra, compense, areje!