O Curta Vitória a Minas II está voltando ao território mineiro para aquele cafezinho com queijo, uma prosa animada, um abraço caloroso e a gravação de mais histórias. A caravana integrada por uma equipe de profissionais e o suporte de equipamentos de captação de imagens e de som fará duas novas paradas em Minas Gerais. O projeto é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e conta com a realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal.
O primeiro filme a ser gravado foi “Santa Cruz”, da artista visual Rita Bordone, no município de Ipatinga, na Região Metropolitana do Vale do Aço, de 08 a 10 de fevereiro, e em seguida, a equipe se deslocou para Naque, no Colar Metropolitano do Vale do Aço, aonde gravará “O Tempo era 1972”, do aposentado Ademir de Sena Moreira, no período de 13 a 15 de fevereiro. As duas cidades estão localizadas no Vale do Rio Doce. As novidades sobre as gravações podem ser acompanhadas no site do projeto.
Dez histórias escritas por moradores de cidades capixabas e mineiras que se desenvolveram no entorno da Estrada de Ferro Vitória a Minas estão virando filmes de curta-metragem de até 15 minutos. A segunda edição do concurso escolheu histórias vindas de Ibiraçu, João Neiva, Baixo Guandu e Colatina, no Espírito Santo, e de Aimorés, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Naque e Nova Era, em Minas Gerais.
Após a seleção, os dez autores se reuniram numa imersão para estudar noções básicas de roteiro, direção, fotografia, som, produção, direção de arte e mobilização comunitária com o acompanhamento de profissionais do cinema de renome nacional. Com o roteiro e o plano de produção em mãos, cada autor voltou para sua cidade de origem para articular e envolver a comunidade na produção da obra. Agora, é hora de colocar o plano de filmagem em ação.
Fé, arte e devoção
Nascida em Bom Jesus do Galho (MG), Rita de Cacia Bordone se mudou para Ipatinga, em 1997. Graduada em Artes Visuais, participou de diversas oficinas de artes visuais, teatro, dança contemporânea, cenografia e maquiagem, se especializou em arte da impressão têxtil botânica em utilitários e coleciona objetos e ideias do cotidiano para serem transformados e ressignificados através de exposições na galeria de arte da cidade.
A história “Santa Cruz”, selecionada pelo projeto, é uma ficção baseada nas memórias de infância da diretora durante os anos em que morou na roça ao lado da família apaixonada pela arte e a cultura. Todo mês de maio sua saudosa mãe, Maria Pires de Faria, costumava pendurar cruzes de madeira enfeitadas com papel de seda em portas e janelas da casa como um ritual de proteção e um gesto de devoção e gratidão a Nossa Senhora.
O cuidado e o carinho da mãe artesã e benzedeira na confecção das cruzes encantavam a menina que gostava de andar pela estrada de chão de tons terrosos para encontrar as cruzes coloridas espalhadas pelas casas. Ao recriar o ritual das cruzes no cinema, a diretora quer homenagear a mãe e compartilhar o encantamento destas antigas lembranças. As gravações acontecerão nos bairros Tribuna e Ipaneminha, em Ipatinga.
Luta e dignidade
Aos 64 anos de idade, o aposentado Ademir de Sena Moreira fará o seu primeiro filme. “O Tempo era 1972” viaja até a adolescência do diretor para contar como ele e os irmãos encaravam as dificuldades para ajudar no sustento da família com poucos recursos financeiros. Filho da professora Naná e do lavrador Nenêgo, Ademir era o segundo de sete irmãos, sendo seis homens e uma mulher. Atento a toda e qualquer oportunidade de trabalho para ganhar uns trocados, o menino vendeu sorvete na rua, plantou capim nas fazendas, vendeu laranja, quebrou pedra, sem nunca parar de estudar.
O filme resgata um dos episódios mais marcantes desta luta pela sobrevivência com esperança no futuro. No início dos anos 70, a construção da canaleta às margens férreas atraiu dezenas de trabalhadores para a região. O garoto e o irmão Tuca acordavam cedo, compravam pão na padaria, embarcavam no caminhão com os trabalhadores, partiam para a obra a fim de vender pão com manteiga, ouviam os causos e voltavam a pé para casa. O curta mostrará as aventuras, as desventuras, os vínculos familiares, os laços de afeto, a resistência e a dignidade de uma família que se manteve unida apesar da vida dura e escassa. As filmagens acontecerão em várias partes do município de Naque.
Na estrada
“Dezinha e Sua Saga” escrita pela auxiliar de serviços gerais Luciene Crepalde foi a primeira história a ser gravada de 20 a 22 de janeiro em Nova Era (MG). Na sequência o projeto pegou o caminho para Ibiraçu (ES) para filmar a história “Reciclando Vidas e Sonhos”, da coletora de materiais recicláveis, Ana Paula Imberti, no período de 24 a 27 de janeiro. “O Último Trem”, de autoria do vendedor Fabrício Bertoni, foi gravado em Colatina (ES), nos dias 28 e 29 de janeiro.
Depois de Ipatinga e Naque, serão gravadas entre os meses de março e abril as seguintes histórias: “T-Rex e a Pedra Lascada”, do biólogo Luã Ériclis, de João Neiva (ES); “Colatina, A Princesa do Rock”, do jornalista Nilo Tardin, de Colatina (ES); “Lia, Entre o Rio e a Ferrovia”, da professora e comunicadora Elisângela Bello, de Aimorés (ES); “Mães do Vale: Um olhar sobre a Maternidade”, da contadora Patrícia Alves, de Coronel Fabriciano (MG); e “Um Ponto Rotineiro”, da estudante Jaslinne Pyetra, de Baixo Guandu (ES).
Conheça o Instituto Marlin Azul
O Instituto Marlin Azul é uma associação sem fins lucrativos criada em 1999 cuja finalidade é promover ações direcionadas à cultura, à arte e à educação, democratizando o acesso à produção e fruição de bens culturais. Em 23 anos de atividade, a instituição vem desenvolvendo diversos projetos sociais, culturais e audiovisuais voltados para diferentes públicos do Espírito Santo e do Brasil. Além do Curta Vitória a Minas, a instituição desenvolve ações como o Revelando os Brasis, Projeto Animação, Cine Quilombola e
Griôs de Goiabeiras.