A escuta confere grandeza à própria escuta. Ela pode ser considerada uma virtude que cresce e se desenvolve à medida em que é exercitada. Assim sendo, a verdadeira escuta é um dom. Tal como uma semente depositada na terra, ela carece de todos os cuidados necessários para germinar, crescer, florir e dar seus frutos, mas é uma dádiva, um dom de Deus. E, por isso mesmo, resta-nos pedi-la.
A escuta é um dom que entra para o elenco de todos os dons que devemos pedir a Deus, pois só d’Ele pode vir. Mas se nos fosse dado pedir qualquer coisa a Ele, pediríamos, de fato, esta capacidade? Infelizmente, ainda menosprezamos a escuta. Insistir em tal assunto pode parecer até mesmo enfadonho, já que acreditamos – por causa de tantas influências externas – que existem coisas muito mais importantes a serem pedidas a Deus.
Na história da salvação, o homem considerado o mais sábio dentre os homens do Primeiro Testamento é Salomão. Quando é colocado à frente do povo como rei, sucedendo o seu pai Davi, Salomão se vê despreparado para tal empreitada. Ele, então, se põe diante de Deus e pede aquilo que julga necessário para poder conduzir o povo. Salomão não pediu riquezas, não pediu um numeroso exército, tampouco pediu a morte de seus inimigos mais poderosos. Surpreendentemente, Salomão pede a Deus um coração capaz de escutar: “ensina-me a escutar” (1Rs 3,9), foi o que ele pediu ao Senhor. Tal pedido agradou a Deus e, por isso mesmo, ele recebeu do Senhor a sabedoria necessária para conduzir o povo, destacando-se nesta matéria.
A escuta é um dom de Deus; pedi-la é nosso dever; exercitá-la, nossa missão. A sabedoria vem pelos ouvidos, justamente por meio da escuta atenta e sincera. Salomão, assim como tantos homens sábios, é aquele que soube gastar seu tempo pondo-se a escutar para discernir, mostrando que a escuta também conduz à justiça. Cabe a cada um de nós pedir tal dom a Deus, de modo especial e particular a nossos governantes, para que de fato escutem os clamores daqueles que gritam, mesmo que silenciosamente.
O exercício da escuta confere grandeza à própria escuta. Salomão tornou-se sábio, mas perdeu-se quando deixou de escutar a Deus e passou a ouvir também outros deuses. Isso serve-nos de alerta para que compreendamos que o exercício da verdadeira escuta não tem fim. Logo, tomemos como medida aquele que nos ouve a todo instante: Jesus Cristo. Ele é o melhor e maior exemplo daquele que exercita os ouvidos diante dos clamores da história e na obediência ao Pai, sempre e até o fim. Por isso, aí está quem é maior que Salomão (Mt 12,42).