O Papa Leão XIV publicou nesta quinta-feira (9) sua primeira exortação apostólica, Dilexi te (“Eu te amei”), um texto de 121 pontos dedicado ao serviço aos pobres e à dimensão social do Evangelho. O documento dá continuidade ao trabalho iniciado pelo Papa Francisco e apresenta uma reflexão profunda sobre o amor de Cristo que se encarna no cuidado dos mais vulneráveis — os doentes, migrantes, mulheres vítimas de violência, e todos os que sofrem exclusão social.
Inspirando-se em São Francisco de Assis, o Papa recorda que não se pode separar a fé do amor pelos pobres. “No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes, o próprio sofrimento de Cristo”, afirma Leão XIV. A exortação denuncia a “economia que mata”, a desigualdade social, a desnutrição e a “emergência educacional”, pedindo aos cristãos uma mudança de mentalidade e um compromisso concreto com a justiça e a equidade.
O texto, assinado em 4 de outubro, segue a tradição da Doutrina Social da Igreja e cita os pontificados de João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, reafirmando a opção preferencial pelos pobres como dimensão essencial do Evangelho. Leão XIV alerta contra “a cultura do descarte” e critica a “pastoral das elites”, que ignora os mais necessitados em nome da eficiência ou da conveniência social.
O papa afirma: “Observar que o exercício da caridade é desprezado ou ridicularizado, como se fosse uma fixação somente de alguns e não o núcleo incandescente da missão eclesial, faz-me pensar que é preciso ler novamente o Evangelho, para não se correr o risco de o substituir pela mentalidade mundana. Se não quisermos sair da corrente viva da Igreja que brota do Evangelho e fecunda cada momento histórico, não podemos esquecer os pobres”.
A exortação dedica também um amplo espaço às migrações, lembrando que “em cada migrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate às portas da comunidade”. O Papa retoma os quatro verbos de Francisco — “acolher, proteger, promover e integrar” — e sublinha que servir aos pobres “não é um gesto de cima para baixo, mas um encontro entre iguais”.
Entre os muitos temas tratados, Dilexi te aborda ainda a dignidade das mulheres, o direito à educação e o papel libertador da caridade cristã diante das “novas escravidões modernas”, como o tráfico humano e o trabalho forçado. Leão XIV convida todos os fiéis a fazer ouvir “uma voz que denuncie”, capaz de despertar consciências e transformar as estruturas injustas “com a força do bem”.
O documento conclui com um chamado à conversão pessoal e comunitária: “Os pobres não são um problema social, mas o coração da Igreja. Pertencem à nossa família.”