POR Izabella Gomes, sob supervisão de Marina Dias/Itatiaia
Nesta quarta-feira (23), em um caixão simples de madeira, forrado com tecido vermelho, o Papa repousa vestido com uma casula da mesma cor, em um rito que seguirá os protocolos tradicionais do Vaticano. Fiéis de diversas partes do mundo devem passar pela Basílica de São Pedro para prestar as últimas homenagens.
Na tradição católica, o vermelho carrega um peso simbólico profundo: remete ao martírio, ao sangue derramado por Cristo e pelos primeiros santos, além de representar a entrega total à fé — uma entrega que, para os papas, é muitas vezes entendida como missão de vida.
A escolha pelo vermelho nos funerais papais não é recente. Registros históricos mostram que a prática remonta há séculos. Em 1958, por exemplo, o Papa Pio XII foi velado com vestes e esquife em tons de vermelho vivo. O Papa Pio IX, exumado em 1956, também estava vestido com trajes vermelhos ornados em dourado. A cor foi mantida ao longo do tempo como símbolo do compromisso extremo dos pontífices com a Igreja.
Segundo o vaticanista brasileiro Filipe Domingues, a simbologia do vermelho se estende também aos cardeais, que usam trajes dessa cor como sinal de prontidão para dar a vida pela Igreja.
Além de sua presença nos funerais papais, o vermelho é uma das seis cores litúrgicas do calendário da Igreja Católica. É usado em datas específicas do Ano Litúrgico, como no Domingo de Ramos, na Sexta-Feira Santa, no Pentecostes e nas celebrações dedicadas aos mártires, apóstolos e evangelistas. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a cor representa o fogo do Espírito Santo, o sangue e o martírio.
Outras cores também têm significados próprios: o roxo marca períodos de luto e penitência, como a Quaresma; o branco simboliza a alegria em festas como o Natal e a Páscoa; o verde é usado no Tempo Comum, quando não há celebração específica. Já o preto e o rosa aparecem em situações especiais, embora seu uso seja cada vez mais raro.